Artigo: A luta continua contra o inferno da Santa Ignorância

Compartilhe esta notícia:

Quem se sujeita à provocação esta fadado a escutar despautérios, posições ímpares, consolidadas, ideologicamente fundamentadas, o brado do senso comum. A intenção daquele que passa pela Análise do Discurso e a Teoria da Argumentação como um estudioso é realmente provocar o diálogo, propor o Dialogismo como referiu-se Bakthin, exercitar os argumentos, rever posições, estar disposto a propor soluções e aprender com o outro.

Retirá-lo da Zona de Conforto, hoje, não é tarefa fácil, principalmente em um País que os livros de autoajuda figuram entre os “best-sellers” , que o Google é o condutor de massas com suas verdades, que o celular e sua mágica de um toque a resposta é adquirida. Num Brasil que a miséria ainda persiste, as desigualdades acontecem e são nítidas, a Educação fadada ao reino abissal, a Saúde na UTI, a Segurança insegura,  o cotidiano assombrado pela incerteza humana. Qual a nossa próxima mutação? (vide Kafka). O prozac do século XXI está aí, dilacerado no mau uso de tecnologias, na expansão da pós-verdade, acobertada de fakenews, na rotulação catalogada, padronizada da autoajuda.

Em um universo que o Jornalismo de fato deveria se assumir como o Quarto Poder, identificamos uma imprensa maculada pelas ideologias impostas pelos seus donos, por seus coronéis a serviço da sonegação de impostos, às concessões, ao livre comércio publicitário. Informações que deveriam ser dadas com seriedade são incorporadas ao viés partidário daquele veículo midiático.

E diante de caminhos nublados, escondidos, buscamos o silogismo, o generalizar, o mesmo balaio para o Quico e o Francisco; ao esperançar caminhamos ao encontro, esperar que os problemas sejam resolvidos (não por nós, mas por Alguém), solucionados como em um passar de mágicas ou que uma forte tempestade venha e carregue com suas águas e seus ventos todo o mal que nos aflige. Diante deste repassar de responsabilidades é que paro e indago, desacelero (logo eu!) e proponho minhas dúvidas, incertezas, certezas, provocações. Como estimular as pessoas a refletirem se não por meio da máxima socrática. É perguntando, é indagando, é discutindo, é ouvindo, é aprendendo, é amando, é através do desamar (neologismo em referência ao pluriamar de Drummond). Jamais seria um professor justo se não estimulasse os discentes ao pensamento crítico, jamais seria um jornalista satisfeito se não voltasse os olhos dos que me leem para a rivalidade ideológica midiática. E neste caso posso me carregar de centenas de exposições filosóficas, sociológicas, históricas para manter este alicerce. Basta beber das palavras de Márcia Tiburi, Orwell, Adorno, Horkheimer, Bauman, Zizek, Foulcault, Sérgio Buarque de Holanda, dentre tantos outros. A insistência nesse caminho desagrada aos que no inebriar do cidadão almejam ficar, levantar bandeiras para Esse ou Aquele Lado. Meu mastro continua intacto, minha bandeira continua a flamular, no entanto pelo brasileiro, pelo ser humano.

Para quem está no ramo da Literatura, nesse campo vasto das linguagens é muito fácil inserir-se num personagem, vestir uma camisa e sair por aí bradando e ver que as pessoas acreditarão ou discordarão da sua personagem, da pessoa e não daquilo que falastes. Coxinha, Fascista, Marxista, Comunista são expressões bradadas ao léu, sem prudência, discordante do contexto e de seu viés histórico-ideológico. Lembro-me que o ator André Marques no ano de 1992 fazia uma personagem (é no feminino mesmo, vide as regras da Língua Portuguesa), o Sandrinho, que vivia um relacionamento com o Jeférson (Lugui – ator negro) e foi agredido fisicamente nas ruas do Rio de Janeiro pelo romance fictício. Este foi um dos casos emblemáticos nessa confusão que o ser humano realiza diante da obra de arte (vide Edgar Morin, como referência na Redação ENEM de 2019), porém outros vieram e seria necessário uma telenovela para contá-los. Não me esqueço também da funcionária pública que passava todos os dias da casa da minha avó Carmem (costureira) para conversar e dizia que desejava matar o Miro(personagem do Miguel Falabela em Selva de Pedra). Eu inconformado com tamanha raiva perguntava a minha eterna professora, Vó Carmem, como a Cida nutria tanta raiva por um personagem da telenovela “Selva de Pedras” , ela logo me dizia: a Cida não consegue diferenciar o Falabela do Miro, ela não sabe o que é ficção. Talvez aí o meu gosto por esta arte. Esta que encanta, mas desencanta aos incautos; provoca o pensar, mas estimula o matar.

A nossa magia pode soar como bruxaria, porém o professor quando se encontra com o jornalista eles bailam, festejam, almejam que os demais usufruam desta festa de gala, porém o preço do ingresso para adentrar a esta será sempre a reflexão, o pensar, o argumentar, independente da sua posição, da sua ideologia, da sua religião. Porém, não deixe de pensar para argumentar! Sou Sérgio Augusto Sant’Anna, um eterno aprendiz, disposto a ouvir, a discutir, a refletir, a pensar e não parar de estimular… Só sei que nada sei.

*Prof. Sérgio A. Sant’Anna – Taquaritinguense.  Professor de Redação e Língua Portuguesa na Rede Luterana de Ensino de Porto Alegre e Região Metropolitana; Professor na Rede Universitário de  Cursinhos Pré- Vestibulares do Rio Grande do Sul e Professor de Atualidades e Redação do Certo Vestibulares em Porto Alegre.

Compartilhe esta notícia: