Artigo: A vida é trem-bala parceiro

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Por: Gustavo Girotto*

Rafa Loschiavo, desde menino, era dono de suas convicções e de personalidade forte. Ele podia jogar futebol no time dos ‘riquinhos’ da cidade, mas não se interessava. Era fiel aos seus amigos e, independente de suas condições ou o berço que nasceu, sempre foi o mesmo – no Anjo da Guarda ou no 9 de Julho. Não levava desaforos, seja de quem for – isso era um traço marcante.

Atacante escalado pelo meu pai (Misso Girotto) no plantel do Rotary – onde NÃO tínhamos uma equipe de craques – lá os resultados somente apareciam pela união do elenco. A escalação no ataque era formada por Rafael Mársico Loschiavo, Elton Schwarzmaier e Rafa Grigolli, meio campo Jorge Augusto Teles, Fabio Teles, Luís Henrique Lopes e Leandro Zambelli, zaga Thiago Alves, laterais Leandro Troiano e Marcio Teles – goleiro Olavo Volanti. Mesmo meu pai sendo o técnico, eu fazia parte do banco de reservas e confesso: de futebol o velho entende e o Rafa respeitava!

O ‘Cabelinho’ (um dos seus milhares de apelidos) em campo era motivador, além de habilidoso e rápido – brincávamos que o bendito cabelo atrapalhava; já ele dizia que era ‘charme’. Tinha um “Q” de galã de cinema, estilo “Brad Pitt”, que fazia sucesso com a mulherada. Também, jogava tênis.

Gostava de biologia, natureza e prosear sobre a vida. Na maioria das discussões, por mais inflamadas, no final ele sorria. Outro dom que o acompanhou era o desenho, onde expressava criatividade, imaginação, noção de proporção, boa estética e diversas outras qualidades. A camisa do 3º B do 9 de Julho trás sua marca, seu traço!

Quando eu atuava em jornal local, Rafa também foi meu parceiro: colaborou com tirinhas de grande ironia e crítica social. Ele desenhava, eu publicava e nós discutíamos: umas eu concordava, outras ele discordava. A prosa nesta fase sempre foi um tanto quanto paradoxal, mas com o tempo aprendi que ele estava certo: muitas vezes para aprender precisamos experimentar. Ler somente não basta!

No carnaval tocava surdo, mas era melhor em campo de futebol e quadra de tênis. Mas lá estava pela diversão, pelos amigos e por aquilo que sempre gostou: conviver com pessoas. Nunca foi bicho de concha, escondeu suas opiniões ou deixou de falar o que pensa. Evoluiu sempre mantendo seus ideais, dividindo seus sonhos e conquistando amizades. A timeline do Facebook nesta terça-feira, 22 de agosto, mostrou o quanto era querido pela família e amigos.

Filho do meio da Fátima e do Toninho, pessoas amáveis, e irmão do Lê e do ‘Dan’, o Rafa lutava nos últimos anos contra sérios problemas de saúde. Do pai, com quem jogava tênis, acredito que ganhou essa habilidade no esporte; da mãe – com certeza herdou a facilidade em se comunicar. Os inúmeros amigos que conquistou na vida terrena, das mais diversas cores e posições sociais, sentem essa partida tão rápida – mas que deixa marcas profundas em cada um. Como na música – a vida é trem-bala parceiro e a gente é só passageiro prestes a partir, que sua última grande viagem seja leve! Siga em paz broder…

*Gustavo Girotto é jornalista.

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